sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Onde estão os tons de verde?

          Manhã de sábado. Fui à padaria onde encontro o melhor pão da cidade, e também, o preferido de minha esposa. Estou voltando para casa. Enquanto espero o semáforo abrir para mim, observo como a luz do sol é capaz de dar mais vida e mais cor às folhas daquela antiga árvore ali da calçada. Sabe, os tons de verde são diferentes quando os raios luminosos do grande astro estão ali, embelezando e acariciando as folhas... O sinal abre. Ouço buzinas. Muitas buzinas, aliás. Epa. AH! É O FIM! Tudo está escuro. Meu mundo apagou. Foi um sonho! Mas, espera... Não, um pesadelo. Um pesadelo que não acaba quando abro os olhos, olho ao meu redor e tudo está escuro da mesma forma.


        Roubaram minhas imagens. Minhas cores, minhas flores de mil sabores. Procurem, o sol tocando as folhas de uma árvore numa manhã de sábado. Por favor, me devolvam, a beleza de um pássaro a bebericar uma poça d'água. Encontrem, é o que peço, as gotas de chuva a escorrer pelo vidro, apostando corrida com meu dedo indicador.
       Não mais consigo engrandecer-me com a alegria estampada no rosto do meu bebê. Entreguem-me novamente a sensação de ver meu pequenino sorrir. 
        Meu olhos incapazes derramam lágrimas, onde os óculos escuros conseguem esconder.

       Mais um dia amanhece. O despertador grita de forma que é impossível ignorar este fato. Escolho minhas roupas no guarda-roupa. Dou um beijo na testa de minha esposa. Ando sem fazer barulho até o quarto onde dorme a minha vida. Sinto a madeira do berço. Inclinando-me para frente, passo minha mão pelos cabelos finos e macios. Abençoo aquela criança pedindo à Deus que a proteja. Continuo com meu passo silencioso ao sair dali. Pego as chaves sobre a mesa. Identifico rapidamente quais precisarei para sair. Pego a 'bengala' que está próxima a porta. Saio pela rua identificando obstáculos. Chego à avenida. Não sei porque todos preocupam-se tanto comigo quando passo por ali e pelas outras ruas movimentadas, é tão fácil, principalmente agora que a prefeitura colocou aquelas bolinhas salientes onde tem faixa de pedestre, nunca me senti tão seguro para atravessar. Enquanto ando pela calçada, penso sobre tudo. Não sou ingrato pelo que tenho. Gosto de tudo que Deus me deu. Mas sinto falta sabe, de algumas coisas: dos sorrisos da minha esposa e da minha criança... e dos diferentes tons de verde que o sol dá as folhas das árvores quando as toca nas manhãs de sábado. Fico imaginando se ainda são os mesmos de que me recordo ou se mudam enquanto não posso analisá-los. Apesar disso, penso que está tudo bem se mudarem, porque meus sonhos ainda continuam os mesmos, e sempre continuarão.
      Meus pensamentos chegam a distrair-me. Mas algo chama atenção em meus ouvidos. Paro. Escuto. Um carro cheio de crianças... ou seriam adolescentes? Histeria. Quem sabe um deles está prestando atenção em mim, enquanto presto atenção neles? É... vai saber...

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