quarta-feira, 21 de julho de 2010

A Esperança

     Roupas pretas, cabelo desalinhado, a expressão um tanto quanto sombria.
     A velha senhorinha, dona de um corpo encurvado e um andar vagaroso, entrou na igreja com o terço na mão, colado ao coração que batia freneticamente.
     Timidamente, sentou-se solitária no canto de um dos enormes bancos de madeira escura.
     Ninguém ali notava sua presença. Ninguém mais a conhecia.
     Ah, como sentia falta de quando seu marido a trazia nas missas dos domingos. Muitas pessoas o conheciam, e faziam questão de comprimentar um dos casais mais bonitos da pequena cidade.
     Agora, em seu recluso mundo de sonhos, a senhorinha não vivia mais na realidade. Sonhava que seu marido voltaria. Como em um milagre dos céus.
     Não tinha amigas gordas e cozinheiras como antigamente. Não conseguia mais conversar com as pessoas. Não sabia mais como viver neste mundo.
     A vida da pequena e encolhida senhorinha se resumia em ir da casa para a igreja, e da igreja para casa. Numa rotina sem fim.
     Tomar um café amargo, assim como seu marido gostava.
     Abraçar o travesseiro que o pertencia durante a noite, e chorar, implorando por um milagre.
     Cantar músicas cristãs fielmente e com ardor, até que a dor se amenizasse ao menos um pouco.

     Mas ela ainda tinha um ponto de esperança dentro daquele coração sofrido.
     Com o olhar baixo, trancava a porta da casa ao sair para a missa das sete.
     Ouviu a buzina de um carro. Seus olhos brilharam como os de uma criança ao ver o pai chegando de viagem.
     E então ele abriu a porta do automóvel desesperadamente. Saiu correndo, parou e olhou para a senhorinha, abriu um sorriso incrivelmente largo.
     Ela o olhou com amor e correspondeu ao sorriso, disse num sussurro:
     - Finalmente.
     Ele correu novamente em sua direção e abraçou seu quadril com os braços que mal conseguiam dar a volta completa.
     Os olhos dos dois ameaçavam escorrer lágrimas, e então ele disse - para tentar amenizar a emoção, como se fosse possível - :
     - Vovó!

Um comentário:

Carol disse...

Que fooooooooooooooooooooofo . ><
amei Tiiiti *-*