sábado, 10 de julho de 2010

O coração mais infeliz






"A música expressa o que não pode ser dito em palavras mas não pode permanecer em silêncio."

Victor Hugo

Fonte: Frases




Felipe
A vi sozinha no alpendre da casa. Estava lendo um livro. Não queria incomodá-la, mas tinha que fazer isso.
Não suportava mais a ideia de vê-la longe de mim.
Pensei em como seriam os momentos seguintes.
Acho que o amor me deixa um pouco nervoso. Sou menos risonho e brincalhão. Por que será?
Saí da piscina e peguei uma toalha que estava próxima. Me enxuguei o melhor que pude, tentei secar meu cabelo, sem sucesso.
Fui andando até o lugar em que Bia estava.
Parecia absorta a história do livro. Seu cabelo quase loiro estava solto e formava cachos singelos nas pontas. Os olhos azuis iam de um lado a outro da página rapidamente. A expressão completamente concentrada. De repente, ela olhou para mim.
Sorri quando ela notou minha presença.
Sentei-me na espreguiçadeira ao seu lado, Bia largou o livro e sorriu para mim.
Olhava dentro dos meus olhos.
- Oi - eu disse, ainda sorrindo.
- Oi - ela respondeu, ansiosa.
- O que estava lendo? - falei enquanto pegava o livro que foi deixado ali.
- Um Amor em Paris. Fala sobre uma garota que escrevia cartas fingindo ser a amiga para o namorado.
- Meu Deus. Que tenso. - eu ri, e Beatriz me acompanhou.
- E como estava a piscina? - perguntou distraidamente.
- Ficar lá sem você não é tão bom... - respondi, aproximando-me.
- Ah-h! - suas bochechas ficaram vermelhas - ficar lendo o livro aqui, sozinha, também não é legal - deu um sorriso tímido. Sorri em resposta a reação dela.
Nossos olhos não desgrudavam nem um segundo.
Ergui a mão e acariciei seu rosto.

Beatriz
O que faltava para eu ter um ataque cardíaco?
Olhava aquele rosto de traços perfeitos se aproximando. O cabelo muito claro e molhado, ainda pigava um pouco. O sorriso lindo se abria carinhosamente, a cada coisa boba que eu dizia. Os olhos castanhos e intensos, fitavam-me profundamente. Não pudia deixar de olhar bem no fundo daquelas janelas perfeitas de uma alma maravilhosa.
Felipe ergueu a mão esquerda e acariciou meu rosto amorosamente, com muito cuidado.
Coloquei a minha por cima e entrelacei nossos dedos.
Ele veio para a minha espreguiçadeira. Estávamos a centímetros de distância.
Fechei os olhos.
- Bia, pode parecer bobo, mas eu te amo. Mesmo que nos conhecemos a tão pouco tempo... - Felipe sussurrou, tão baixo que apenas eu podia ouvi-lo.
- Isso não importa! Eu também te amo! - respondi satisfeita.
- Hora do lanche! - vovó Cecília gritou da porta da casa, que ficava a menos de 2 metros de onde estava com ele.
O grito da vovó me assustou. Inconscientemente, eu e Felipe nos afastamos.
Eu ri, um pouco sem jeito.
Felipe também riu e abaixou a cabeça, enquanto a balançava.
- Vem gente! - Fernando gritou. Até parecia irritado. Não entendi.
Felipe se levantou e ergueu a mão para mim. Eu a segurei e sorri alegremente.
Andamos até a cozinha de mãos dadas, como um casal.
Uma ideia que não me incomoda nem um pouco.
"Como um casal. Casal." Repetia em minha mente até que parecesse uma verdade.

Felipe
No outro dia, de manhã, acordei de bom humor.
Eu e Bia haviámos marcado um encontro na piscina.
Peguei o meu violão e fui para o lugar combinado.
Toquei uma música que havia composto durante aquela noite. Não conseguia dormir, só conseguia pensar nela.
Ela chegou exatamente na hora do refrão, que dizia: "Beatriz, seu jeito lindo de ser, conquista até o coração mais infeliz".
- Que lindo - Beatriz disse, se sentando ao meu lado.
- Eu fiz só pra você - parei de tocar e deixei o violão de lado.
- Verdade? Você que compôs? - ela me olhou com surpresa.
- Foi. Essa noite. Só conseguia pensar em você. - novamente, olhavámos nos olhos um do outro. Ergui a mão e a coloquei em seu rosto.
Parecia que esse momento não chegaria nunca, mas, enfim, chegou.
Ela fechou os olhos e me inclinei.
Agora, nada poderia interromper.

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